Simulação aponta que até 46% de alunos e professores podem ser infectados dois meses após volta às aulas na cidade de São Paulo

24/08/2020 09:50

Simulação aponta que até 46% de alunos e professores podem ser infectados dois meses após volta às aulas na cidade de São Paulo

G1 • 24 de agosto de 2020

Fonte da Notícia: G1

Data da Publicação original: 21/08/2020

Publicado Originalmente em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/08/21/simulacao-aponta-que-ate-46percent-de-alunos-podem-ser-infectados-dois-meses-apos-volta-as-aulas-na-cidade-de-sao-paulo.ghtml

Íntegra da notícia abaixo:

Sala de aula vazia, a espera da volta dos estudantes.  — Foto: Jornal Nacional

Um estudo simulado lançado nesta sexta-feira (21) por pesquisadores independentes e ligados a várias universidades afirma que de 10% a 46% de alunos e professores podem ser infectados pelo coronavírus dois meses após o retorno às aulas na cidade de São Paulo. O governo anunciou que as escolas poderão retornar a partir de 7 de outubro, mas cada cidade tem autonomia para definir qual melhor data para a volta às aulas.

A simulação foi feita pelo grupo Ação Covid-19 e a Rede Escola Pública e Universidade (Repu), que engloba cerca de 15 pesquisadores independentes, mas que têm especialização, doutorado ou pós-doutorado em instituições como Universidade Federal do ABC (UFABC), Unifesp, UFSCar, IFSP, Universidade de Bristol (na Inglaterra) e Escola de Aviação do Exército (na Colômbia).

O estudo não foi publicado em revista científica. Trata-se de nota técnica revisada por outros pesquisadores. A TV Globo procurou a Secretaria da Educação para comentar a simulação e recebeu uma nota dizendo que trata-se de uma ferramenta nova e por isso "precisa de tempo para uma avaliação mais detalhada" e que "é prematuro tirar conclusões finais"sobre a utilidade do simulador (veja mais abaixo).

Para exemplificar o modelo, os pesquisadores envolvidos usaram os dados de duas escolas públicas da capital. Uma escola de Pinheiros, Zona Oeste, com 9 mil metros quadrados e 400 alunos no período da manhã. A outra, na Brasilândia, Zona Norte, com 6,5 mil metros quadrados e 700 estudantes no mesmo período. Na melhor situação possível, isto é, se as escolas seguirem as regras como o uso de máscaras, higienização das mãos, medição da temperatura na entrada e o distanciamento, 46% dos estudantes na escola da Brasilândia poderão se contaminar, em dois meses, e com uma expectativa de até 15 mortes. Em Pinheiros, 10% de contaminações e uma morte.

Tabela de estudos de cenários projetos pelo grupo de pesquisadores da UFABC. — Foto: Reprodução

O grupo adaptou um modelo de cálculo que eles já tinham usado para medir a dispersão do coronavírus nas cidades, e também nos bairros. O estudo simula 100 cenários diferentes de volta às aulas, levando em conta o tamanho das escolas (espaço físico), se segue, ou não, os protocolos de segurança e de higiene, e as regras de distanciamento social.

O pesquisador Jose Paulo Guedes, da UFABC, diz que “o simulador leva em conta os cenários de desigualdades nas escolas mais densas, que têm menor espaço e mais alunos, e as menos densas, com menos alunos e mais espaço físico”.

Após os cálculos, a recomendação do grupo, que defende publicamente a escola pública, é para que suspendam a volta às aulas. Eles consideram que nem mesmo os 35% de alunos previstos pelo governo de São Paulo para frequentar as escolas são suficientes para evitar a contaminação pelo novo coronavírus. O grupo também defende a reabertura das escolas apenas no ano que vem, e possivelmente depois que entrar em circulação a vacina que combate a doença.

"As simulações mostram que a dinâmica de infecção só seria evitada em uma unidade escolar caso a quantidade de pessoas presentes no ambiente fosse muito inferior aos 35% do total de estudantes que o governo de São Paulo prevê para a Fase 1 do plano de reabertura das escolas, inclusive para escolas mais dispersas (com área maior e/ou com número menor de pessoas). Além da inviabilidade prática, esta condição hipotética de reabertura “mais segura” das escolas implicaria no aprofundamento das desigualdades educacionais em desfavor de estudantes e escolas em piores condições", afirma o documento publicado pelos pesquisadores.

No estudo, o grupo também diz que o modelo de reabertura criado pelo governo de São Paulo, com volta escalonada de estudantes ocupando máximo de 35% dos espaços da unidade escolar, deixa os estudantes da periferia mais vulneráveis, por conta da concentração mais alta de alunos nessas áreas, e também mobiliza um contingente de pessoas fora da escola que favorece ainda mais o contágio.

"A realidade das escolas públicas de São Paulo, onde estuda a maioria, nos leva a perguntar se tais medidas serão suficientes para evitar uma escalada de infecções a partir da reabertura. Em primeiro lugar, estamos falando de uma abertura de escolas que, mesmo escalonada e em esquema de rodízio, mobilizaria mais de 30% da população do estado a sair de casa regularmente, a utilizar o transporte público e a adensar os entornos dos prédios escolares, não cobertos pelos protocolos de segurança e higiene que valem para o interior das escolas", dizem.

"Em segundo lugar, a reabertura facultativa das escolas para atividades de reforço e recuperação em 08 de setembro tem o mesmo efeito prático de uma reabertura regular, pois caso as comunidades escolares concordem com a reabertura, o atendimento de 35% dos estudantes deverá ser garantido pela unidade escolar", completam.

O estudo divulgado nesta sexta (21) é apenas uma simulação de cenários e qualquer pessoa pode acessar a ferramenta, no endereço www.acaocovid19.org e fazer uma simulação da própria escola.

O que diz a secretaria de Educação

No final da noite dessa sexta-feira (21), a secretaria estadual da Educação disse por meio de nota trata-se de uma ferramenta nova e por isso precisa de tempo para uma avaliação mais detalhada. Mas que o médico epidemiologista, Wanderson de Oliveira, consultor da secretaria, considera que ainda é prematuro tirar conclusões sobre a utilidade do simulador, e que é preciso que os pesquisadores abordem também os danos de se manter as escolas fechadas como já foi demonstrado em vários artigos da Unesco e da OMS.

“Tivemos, ao longo da pandemia, uma série de estudos e simuladores que foram apresentados à sociedade. Na prática, esses instrumentos devem ser utilizados com cautela pois nenhum gestor deve tomar decisões apenas com base em um único instrumento”, diz a nota.

Para a secretaria, os pesquisadores levaram em conta apenas uma interpretação parcial da situação, e nesse sentido conclui Wanderson “consideramos que atrapalha pois é um material que não tem poder significativo para descrever a realidade” (veja íntegra da nota abaixo).

Quais são os requisitos para a retomada das aulas presenciais?

Com as mudanças, para a retomada das aulas presenciais no dia 7 de outubro será necessário que nos primeiros 14 dias 80% da população do estado deve esteja na fase amarela do Plano São Paulo de flexibilização da quarentena e nos outros 14, 100%.

Todos os alunos podem frequentar as atividades opcionais?

Não. A escolas que desejarem reabrir no dia 8 de setembro para atividades opcionais deverão respeitar algumas regras, são elas:

receber até 35% da sua capacidade para alunos da educação infantil e fundamental e nos anos iniciais;

receber até 20% da sua capacidade para alunos do Ensino Médio e anos finais.

Manter o distanciamento de 1,5 metro entre os estudantes.

O distanciamento tem exceções, como no caso da educação infantil e creches, em que não há como manter essa distância entre bebês e cuidadores.

Quem volta no dia 7 de outubro?

A volta será feita em esquema de rodízio de alunos definido pelas próprias escolas e dividida em três fases de retomada:

Primeira fase: somente 35% dos alunos de cada classe poderão frequentar as escolas a cada dia. Ou seja, em um dia vai um grupo, em outro dia, vai outro. Mas a Secretaria não informou qual modelo de rodízio as escolas devem se inspirar.

Segunda fase: até 70% dos alunos poderão frequentar as escolas a cada dia.

Terceira fase: 100% dos alunos podem voltar às salas de aula.

Quais escolas podem voltar no dia 8 de setembro?

A previsão do governo é de que todo o estado volte a ter aulas presenciais no dia 7 de outubro. No entanto, escolas que quiserem voltar a ter atividades opcionais a partir de 8 de sembro deverão atender aos seguintes requisitos:

A região precisa estar por 28 dias seguidos na fase amarela (ou superior) do Plano São Paulo de flexibilização da quarentena;

Cada escola tem a opção de voltar mediante escuta de sua comunidade.

E o ensino superior?

O governo de São Paulo autorizou o retorno de atividades de internato e estágio curricular em todas as fases do Plano São Paulo para os cursos de medicina, odontologia, farmácia, enfermagem e fisioterapia.

A gestão estadual ainda autorizou que regiões que estejam nas fases laranja, amarela e verde também retomem um percentual de aulas presenciais destes cursos, ainda que teóricas.

Como deve ser o distanciamento?

Estudantes, professores e funcionários devem manter distanciamento de 1,5 metro entre si.

Horários de entradas e saídas serão organizados para evitar aglomeração, e serão preferencialmente fora dos horários de pico do transporte público.

Continuam proibidos: feiras, palestras, seminários, competições e campeonatos esportivos, comemorações e assembleias.

Intervalos e recreios devem ser feitos sempre em revezamento de turmas com horários alternados.

As atividades de educação física estão permitidas desde que se cumpra o distanciamento de 1,5 metro. Preferencialmente devem ser realizadas ao ar livre e com cuidando da higienização dos equipamentos.

Recomendado que o ensino remoto continue em combinação com a volta gradual presencial.

Como deve ser a higiene?

O uso de máscara é obrigatório para todos dentro da instituição e no transporte escolar.

Instituição deve fornecer equipamentos de proteção individual (EPIs) para os funcionários.

Bebedouro será proibido. Água potável deve ser fornecida de maneira individualizada. Cada um deverá ter seu copo ou caneca.

Banheiros, lavatórios e vestiários devem ser higienizados antes da abertura, depois do fechamento e a cada três horas.

Lixo deve ser removido no mínimo três vezes ao dia.

Superfícies que são tocadas por muitas pessoas devem ser higienizadas a cada turno.

Ambientes devem ser mantidos ventilados com janelas e portas abertas, evitando toque em maçanetas e fechaduras.

Como monitorar a saúde?

Profissionais e estudantes que pertencem a grupos de risco para Covid-19 devem permanecer em casa e realizar atividade remotamente.

Recomendação para os pais medirem a temperatura de seus filhos antes de mandá-los para a escola. Caso esteja acima de 37,5°, deve ficar em casa.

Recomendação para que as instituições meçam a temperatura das pessoas a cada entrada.

Uma sala ou área deve ser separada na instituição para isolar pessoas que apresentem sintomas até que possam voltar para casa.

Como recuperar o aprendizado?

O governo de São Paulo afirma que será feita uma avaliação individual dos estudantes para a recuperação do conteúdo que não foi aprendido durante o período de ensino à distância.

Escolas também deverão investir em acolhimento socioemocional e em programas de recuperação para alunos com dificuldades nas matérias.

Segundo o governo, o programa de recuperação terá material didático, "apoiado pelo ensino híbrido e com foco em habilidades essenciais".

Será oferecido em 2021 o 4º ano do Ensino Médio optativo para os estudantes que quiserem se preparar antes do ingresso no ensino superior.

Íntegra da nota da Secretaria de Educação

"Considerando que a ferramenta foi disponibilizada na tarde de hoje, será necessária uma avaliação mais detalhada. Segundo os autores o objetivo é contribuir para o debate público sobre os planos de reabertura das escolas no estado de São Paulo. Sobre a utilidade, ainda é prematuro para tirar conclusões finais. No entanto, em análise preliminar considera-se necessário que os autores abordem também os danos de se manter as escolas fechadas como já demonstrado por vários artigos internacionais e pela própria Unesco e OMS. Tivemos, ao longo da pandemia, uma série de estudos e simuladores que foram apresentados à sociedade. Na prática, esses instrumentos devem ser utilizados com cautela pois nenhum gestor deve tomar decisões apenas com base em um único instrumento. Deste modo, considero que a conclusão da nota técnica faz uma interpretação parcial da situação, levando em conta apenas os achados do modelo. Neste sentido, consideramos que atrapalha pois é um material que não tem poder significativo para descrever a realidade. Tivemos modelos do Imperial College que tiveram grandes limitações. No entanto, são importantes para a reflexão e subsídio dentro de um conjunto mais amplo de indicadores e informações que o modelo não leva em consideração". (Wanderson de Oliveira, Epidemiologista e consultor da Seduc SP)

 
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