Tecnologia, educação e emprego

10/09/2014 15:23

Tecnologia, educação e emprego


No mundo atual, as empresas deixaram de ter a escolha entre adotar e não adotar as tecnologias modernas para produzir, vender e prestar serviços. A concorrência foi globalizada. Para sobreviver e crescer, elas estão sendo compelidas a usar métodos eficientes, pois o consumidor exige qualidade crescente e preço decrescente.
Ocorre que, no tempo imediato, onde entra a máquina, sai o trabalhador. Por isso, a incorporação de novas técnicas no sistema produtivo gera sentimentos de ansiedade e medo entre os que se sentem ameaçados de perder o emprego.
Pode-se argumentar que a história tem exemplos contrários. De fato, a chegada das novas tecnologias na agricultura esvaziou os empregos no campo, mas criou uma enormidade de postos de trabalho na economia em geral. As máquinas que substituíram os artesãos pela produção em série fizeram o mesmo com o emprego industrial.
Ainda assim, fica a pergunta: será que isso vale para as novas tecnologias? O que será do emprego quando for generalizado o uso dos computadores que pensam e corrigem os próprios erros? O que farão os trabalhadores quando grande parte da produção for robotizada? Eles estão preparados para o novo mundo?
As perguntas procedem, pois estudos recentes indicam que a metade dos empregos dos Estados Unidos tem alta probabilidade de, em menos de 10 anos, ser substituída por robôs, computadores, drones e outras inovações (Carl B. Frey e Michael A. Osborne, The future of employment: how susceptible are jobs to computerisation, University of Oxford, 2013).
Os autores citados estudaram cerca de 700 profissões que, à luz das novas tecnologias, foram classificadas como de baixo, médio e alto risco de sobreviverem. As mais críticas são as que envolvem tarefas rotineiras e repetitivas, que serão realizadas por meios mecânicos e eletrônicos, incluindo as ocupações das linhas de produção industrial, da logística, do transporte, da construção, os vendedores, balconistas, caixas e todas as profissões que podem ser executadas por robôs e computadores.
No médio risco estão os profissionais que combinam destreza manual com inteligência na tomada de decisões, como os instaladores, reparadores, encarregados de manutenção. No nível baixo estão as profissões que requerem alto nível de inteligência social e emocional, com capacidade para interpretar sentimentos e resolver problemas, incluindo aqui artistas, negociadores, cuidadores da saúde e dos direitos, executivos de projetos e administradores de contratos.
O que será dos ocupantes das profissões de alto risco? A garantia do futuro está na qualidade da educação que receberam. Com boa base em língua e matemática, eles terão chance de se reciclarem e de entrarem nos novos nichos de trabalho a serem criados pelas próprias tecnologias. Fora disso, correm o sério risco de serem atingidos pelo desemprego crônico, de longa duração, o que redunda em grandes despesas para o Estado na forma se seguro-desemprego, assistência social, programas de renda mínima e outros.
A educação de boa qualidade é a chave. Se os Estados Unidos enfrentam esse risco, o que dizer do Brasil? Os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação (Ideb) referentes a 2013 e divulgados na semana passada trouxeram más notícias. Dos 27 estados brasileiros, 16 pioraram em relação a dois anos atrás tanto em português quanto em matemática. A média nacional ficou na irrisória marca de 3,7 pontos de uma escala de zero a 10. O pior é saber que os alunos que vão mal nas primeiras sérias dificilmente se recuperam nas demais.
Na mesma semana fomos informados de queda de 0,6% no PIB e de menos um ponto na escala de competitividade global na qual o Brasil ocupa a 56ª posição entre 144 países. Não é coincidência. Sem educação de boa qualidade, é impossível ter êxito na competição mundial.
Há muitos problemas preocupantes no campo da educação. Um dos mais graves é o fato de apenas 2% dos que se formam no ensino médio buscarem a carreira do magistério. Dos que fazem essa opção, a maioria é constituída por estudantes que tiveram mau desempenho no ensino fundamental e médio.
Esse é o nosso maior desafio: criar estímulos para atrair os bons talentos à área da educação. A remuneração conta, é verdade. Mas não é tudo. Faz-se necessária uma cruzada nacional de longa duração que movimente as forças da sociedade para valorizar as profissões de professor e de diretor de escola.
Oxalá os investimentos dos 10% do pré-sal venham a ser direcionados para a referida valorização e também para atualizar os docentes e gestores atuais.
Do contrário, vamos ser atropelados pelas novas tecnologias. No novo mundo, não basta ser adestrado. É preciso ser bem-educado. Não basta passar nos exames. É imperioso saber pensar. Não basta ter informações. É preciso usá-las com bom senso, ter lógica de raciocínio, saber trabalhar em grupo e dominar bem a linguagem, a fala e a escrita. Essa é a agenda que os próximos governantes terão de iniciar e garantir a sua continuidade.
JOSÉ PASTORE
Professor e relações do trabalho da Universidade de São Paulo, presidente do Conselho de Emprego e
Relações do Trabalho da Fecomercio-SP e membro da Academia Paulista de
Fonte: correio Braziliense / DF

 

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